sábado, 30 de abril de 2016

ANDANDO SOBRE O MAR


Depois que o Salvador deixou a multidão
A comentar dos pães a multiplicação,
Subiu ao monte e, ali, ficou a contemplar
A beleza do céu e a poesia do mar,
Sentindo o coração pulsando confortado
Pelo grande milagre há pouco realizado,
Sabendo que o fizera apenas pelo amor
Que sempre dedicara ao pobre pecador,
Fazendo reflorir na paz e na alegria,
A vida que murchava à dor de cada dia,
E fazendo brotar, numa festa de rosas,
Os tristes corações e as almas dolorosas...
E foi talvez ali, naquela solidão,
Que Jesus recitou a mais doce oração...

Caía a tarde. Ao longe, um barco navegava;
Soprava a ventania, o mar se revoltava
E as ondas a rolar, ameaçadoramente,
Pareciam querer tragá-lo, de repente...

Os discípulos seus estavam lá – coitados! –
Pelo negro terror da morte dominados...
Pescadores leais – homens do mar – como eram,
Diante da tempestade eles logo souberam
Que já não lhes restava a mais leve esperança...
Tudo estava perdido, a não ser que a bonança,
Por milagre de Deus, não tardasse demais...

E Jesus, que do monte os contemplava em ais,
Moveu-se de piedade e veio, devagar,
Leve, como a virtude, andando sobre o mar...

Quadro maravilhoso aquele! Quadro lindo
Que o tempo consagrou com seu valor infindo!
Nem as famosas mãos dos grandes escultores
Nem o gênio dos mais afamados pintores
Poderiam gravar, no mármore ou na tela,
Aquela aparição divinamente bela:
- O céu encapelado, o céu a lampejar
E Jesus, muito leve, andando sobre o mar.

No seu medo, porém, os discípulos vêem
Apenas um fantasma a lhes surgir do Além.
Mas, tal como a bonança esplendorosa e pura,
A voz do Salvador soou-lhes com doçura:
- “Não temais, que sou Eu! Tende ânimo, porque
O Pai, que tudo sabe, o Pai que tudo vê,
Sentiu a vossa angústia, ouviu vossa oração
E vos mandou, por mim, a sua redenção.”

Então Pedro exclamou: - “Se és tu, ó Mestre amigo,
Se és tu mesmo, Senhor, manda-me ir ter contigo!”
E Ele lhe disse: - “Vem!”
Pedro seguiu, mas logo
Vacilando, gritou – “Senhor, eis que me afogo!
Ó salva-me, Senhor!”
E o Mestre o segurou
E, muito paternal e calmo, lhe falou:
- “Por que tu duvidaste, homem de pouca fé?
Tem ânimo! levanta e firma-te de pé!
Pois aquele que crê e é salvo pela graça
Pode ordenar ao vento... e a tempestade passa...”

E, entrando ambos no barco, o mar ficou sereno,
Como a própria expressão do Nazareno...
O céu torna-se azul; cessou do vento o açoite;
E a lua, que surgiu para o esplendor da noite,
Era a coroa astral de Deus no firmamento,
E o símbolo de luz do Novo Testamento...

E os discípulos vão, agradecidamente,
No íntimo elevando aos céus a prece ardente,
Libertos afinal do peso das agruras,
Aprendendo do Mestre, à luz das Escrituras,
As mais belas lições e os conselhos mais sábios,
Sentindo os corações sem mágoas nem ressábios:
Claros – como o esplendor balsâmico do luar,
Leves – como Jesus andando sobre o mar.

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