terça-feira, 19 de abril de 2016

QUEM ME CHAMA?

Dalva Nanci Alberti
Do livro Florilégio Cristão

NARRADORA — Quem me chama? Esta é a pergunta de Lúcia, jovem professora recém-formada. Qual a razão desta interrogativa?
LÚCIA (Entra com um diploma na mão) — Como estou feliz! Não sei se há alguém mais feliz do que eu! Foi maravilhosa a festa de formatura! Tenho agora em minhas mãos o que almejei durante muitos anos. (Abre o diploma e lê:) — "Lúcia Bastos, professora normalista..." Oh! que felicidade, sou professora! Poderei trabalhar como sempre desejei. Ter uma classe modelo, de acordo com a Pedagogia moderna. Papai me prometeu uma nomeação na capital. Certamente ganharei o bastante para viver com todo o conforto!
Como estou cansada! Estudos, provas, festas... O tempo voa. Lembro-me bem do primeiro dia de aulas, o uniforme, as colegas, a sala de aulas, as professoras... Ah!.. (começa a folhear uns cadernos velhos e encontra a poesia "Dedicação". Lê em voz alta:)
DEDICAÇÃO
Sady Machado
Se eu tivesse mais vidas, bom Jesus!...
Mais vidas te daria...
Todas seriam tuas,
Para pregar o Evangelho da Cruz,
Que salva e enche a alma de alegria,
Pela presença da radiante luz...
Se eu tivesse mais vidas!...
Para cantar bem alto
Um hino que fosse ouvido
Pelos quadrantes desta nossa terra...
Para ensinar o verdadeiro caminho
A quantos buscam a paz pelas armas da guerra.. .
Para amparar esse quase imensurável
mundo sofredor...
Para, mesmo no meio da luta,
Dizer, como Davi:
— "O Senhor é o meu Pastor...”
Para viver!...
Viver intensamente,
Deixando uma estrada que possa
ser percorrida...
Para aproveitar o tempo...
Os talentos...
Dedicando-os a ti...
Somente a ti!...
Se eu tivesse mais vidas...
Todas seriam tuas, bom Jesus!...
Afinal...
O que possuo já é por tua bondade...
O que desejo só alcançarei ao teu lado...
O de que preciso é a tua verdade...
O que me faz exultar é ser por ti amado...
Mas...
Quem sou eu para te pedir tanto?...
Certamente, por mim, nada de ti mereço...
Teu sangue um dia enxugou meu pranto...
Do que me deste, então, eu te ofereço...
Por isso...
Não preciso outras vidas.
Não.
Esta me basta...
Uma só inteligência...
Uma só alma...
Um só coração...
—Modesta flor do teu grande jardim...
Pois eu bem sei o que querem de mim:
—é lealdade, santificação
—fé... perseverança
— consagração... amor
Impulsionando a minha própria vida...
Na vida inteira da minha dedicação
(Depois, senta e fica pensativa.)
NARRADORA — Lúcia foi a melhor aluna da classe, a mais inteligente e a mais dedicada. Bem merece o título que agora lhe pertence. Está absorta, a recordar o passado e a fazer planos para o futuro. Subitamente...
CRIANÇA SERTANEJA (vai entrando e chamando) — Lúcia, Lúcia, ajude-me! Eu preciso de você, Lúcia! Por certo você já tem ouvido a meu respeito. Venho do sertão da nossa Pátria, onde habitam animais selvagens e um povo sem recursos. Você acaba de receber seu diploma de professora, eu lhe suplico, venha ajudar os pobres sertanejos, que, como eu, não sabem ler nem escrever. Também ouvi dizer que há um Salvador — Jesus — mas quase nada sabemos sobre ele. Eu sei que você o conhece. Venha e nos conte a sua história. Nós precisamos de uma professora como você, venha!... venha!... (sai).
MENINA POBRE — Eu também preciso de você. Vivo numa choça, às margens de um pequeno rio. O sertão do Brasil é o meu mundo. Um dia eu vi uma menina da cidade. Como era linda! Tinha vestidos bonitos, rosto corado e tinha livros para estudar. Tenho vontade de ter vestidos bonitos também e principalmente livros, mas não sei como... Você pode nos ensinar a ler, a escrever e pode nos contar histórias de um livro grande, que chamam de Bíblia, não pode? Venha comigo, Lúcia, porque onde moro ninguém pode ler naquele livro e nem sabem contar suas histórias. Venha comigo!... (afasta-se, meio voltada para Lúcia, olhando-a até desaparecer).
MOÇA (modestamente vestida) — Onde está você, Lúcia? Venho do meio de um povo rude e degradado. Povo supersticioso e sem princípios morais. Sou moça como você, mas você mora na cidade e eu no interior, você possui um diploma e eu não tive a oportunidade de estudar. Assim passei a infância. Muitas outras jovens vivem como eu. Venha, e nos auxilie. Muitas vidas, lá, dependem de você (sai).
VOZ — "O mestre chegou e te chama." Lúcia, Lúcia, não ouves? Parece que estás indiferente. Não venho pedir-te auxílio, venho oferecê-lo. "O meu fardo é leve e o meu jugo é suave." Sou teu Mestre. Tenho falado a ti através das petições dessa gente humilde e necessitada. "O Campo é vasto, mas os obreiros são poucos." Ajuda a libertar essa gente opressa. Dá-lhes a tua sabedoria. Teus conhecimentos precisam penetrar no coração dos ignorantes. Vai até os lugares obscuros, e leva a luz. Eu sou a água da vida e o sertão sedento. Eu sou o pão da vida e o sertão faminto. Leva-me aos seus corações. Com a pujança e o vigor da tua juventude, leva-me àquelas almas. Sê uma bênção. Eu te chamo para seres útil no coração da tua querida Pátria.
LÚCIA — Diante de mim esteve o retrato do sertão brasileiro. Tive a visão do que é o interior de nossa Pátria. E eu não havia pensado em
tudo isso. Que fazer? Deixarei o conforto do meu lar, de minha cidade? E os meus ideais, meus doces e elevados castelos? Apelos insistentes! Vozes me chamam! Quanta miséria! Que farei? Jesus me falou ao coração — Eu sou teu Mestre. Sê uma bênção.
(Ouve-se o hino 298 do "Cantor Cristão".)
"Nem sempre será pra o lugar que eu quiser que o Mestre me tem de mandar..." Claramente percebo meu lugar de servir. Não é na capital. (Levanta-se e fala com ênfase:) "Onde quer que seja com Jesus irei..." (Ajoelha-se e ora:) Meu Senhor, meu Mestre, reconheço a tua chamada para a obra de Missões. Desejo ser útil à minha Pátria, às almas sedentas e famintas. Irei proclamar meu Salvador. Eu me entrego ao teu serviço. Irei confiante nas promessas de quem me comissionou. Em nome de Jesus.
Amém (continua em atitude de oração até o pano se fechar).
(Extraído do livro Antologia Missionária, da Junta de Missões Nacionais.)
.

REFERÊNCIA:
REACHERS, Sammins; PIRES, Vilma Aparecida de Oliveira. Teatro Missionário: Peças teatrais e jograis sobre Missões e Evangelização para Igrejas evangélicas. Versão Gratuita em PDF, 2013.



.
 
VEJA TAMBÉM

Nenhum comentário:

Postar um comentário