sábado, 30 de abril de 2016

ANDANDO SOBRE O MAR


Depois que o Salvador deixou a multidão
A comentar dos pães a multiplicação,
Subiu ao monte e, ali, ficou a contemplar
A beleza do céu e a poesia do mar,
Sentindo o coração pulsando confortado
Pelo grande milagre há pouco realizado,
Sabendo que o fizera apenas pelo amor
Que sempre dedicara ao pobre pecador,
Fazendo reflorir na paz e na alegria,
A vida que murchava à dor de cada dia,
E fazendo brotar, numa festa de rosas,
Os tristes corações e as almas dolorosas...
E foi talvez ali, naquela solidão,
Que Jesus recitou a mais doce oração...

Caía a tarde. Ao longe, um barco navegava;
Soprava a ventania, o mar se revoltava
E as ondas a rolar, ameaçadoramente,
Pareciam querer tragá-lo, de repente...

Os discípulos seus estavam lá – coitados! –
Pelo negro terror da morte dominados...
Pescadores leais – homens do mar – como eram,
Diante da tempestade eles logo souberam
Que já não lhes restava a mais leve esperança...
Tudo estava perdido, a não ser que a bonança,
Por milagre de Deus, não tardasse demais...

E Jesus, que do monte os contemplava em ais,
Moveu-se de piedade e veio, devagar,
Leve, como a virtude, andando sobre o mar...

Quadro maravilhoso aquele! Quadro lindo
Que o tempo consagrou com seu valor infindo!
Nem as famosas mãos dos grandes escultores
Nem o gênio dos mais afamados pintores
Poderiam gravar, no mármore ou na tela,
Aquela aparição divinamente bela:
- O céu encapelado, o céu a lampejar
E Jesus, muito leve, andando sobre o mar.

No seu medo, porém, os discípulos vêem
Apenas um fantasma a lhes surgir do Além.
Mas, tal como a bonança esplendorosa e pura,
A voz do Salvador soou-lhes com doçura:
- “Não temais, que sou Eu! Tende ânimo, porque
O Pai, que tudo sabe, o Pai que tudo vê,
Sentiu a vossa angústia, ouviu vossa oração
E vos mandou, por mim, a sua redenção.”

Então Pedro exclamou: - “Se és tu, ó Mestre amigo,
Se és tu mesmo, Senhor, manda-me ir ter contigo!”
E Ele lhe disse: - “Vem!”
Pedro seguiu, mas logo
Vacilando, gritou – “Senhor, eis que me afogo!
Ó salva-me, Senhor!”
E o Mestre o segurou
E, muito paternal e calmo, lhe falou:
- “Por que tu duvidaste, homem de pouca fé?
Tem ânimo! levanta e firma-te de pé!
Pois aquele que crê e é salvo pela graça
Pode ordenar ao vento... e a tempestade passa...”

E, entrando ambos no barco, o mar ficou sereno,
Como a própria expressão do Nazareno...
O céu torna-se azul; cessou do vento o açoite;
E a lua, que surgiu para o esplendor da noite,
Era a coroa astral de Deus no firmamento,
E o símbolo de luz do Novo Testamento...

E os discípulos vão, agradecidamente,
No íntimo elevando aos céus a prece ardente,
Libertos afinal do peso das agruras,
Aprendendo do Mestre, à luz das Escrituras,
As mais belas lições e os conselhos mais sábios,
Sentindo os corações sem mágoas nem ressábios:
Claros – como o esplendor balsâmico do luar,
Leves – como Jesus andando sobre o mar.

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sexta-feira, 29 de abril de 2016

SONETO

Deus pede hoje estrita conta do meu tempo
E eu vou, do meu tempo, dar-lhe conta.
Mas como dar, sem tempo, tanta conta
Eu que gastei sem conta tanto tempo?
 

Para ter minha conta feita a tempo,
O tempo me foi dado e não fiz conta.
Não quis, tendo tempo, fazer conta.
Hoje quero fazer conta e não há tempo.
 

Oh! Vós, que tendes tempo sem ter conta,
Não gasteis vosso tempo em passatempo.
Cuidai, enquanto é tempo em fazer conta.
 

Pois aqueles que sem conta gastam tempo,
Quando o tempo chegar de prestar conta,
Chorarão, como eu, se não der tempo.

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Autor: Frei António das Chagas (Portugal 1631-1682)
 
REFERÊNCIA:

REACHERS, Sammis. Antologia de Poesia Cristã em Língua Portuguesa. [s.n]. Versão gratuita em PDF, [s.d.].

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MISSÕES

Palavra com sete letras, 
Cada uma com sua função: 
Separadas parecem mortas, 
Umas redondas outras tortas, 

Quando unidas pedem reflexão. 
O “Eme” representa milhares, 
O “I” significa indo para o inferno; 
Os “Esses” sibilando nos ares, 
O “O” omitindo aqui e além mares 
O “E”, esperando o amor eterno. 

Missões desta forma definida, 
A família evangélica deve abraçar 
Jesus, o Mestre já deu sua vida, 
Do pecador curando a ferida, 
Justo motivo para o Evangelho pregar. 

Vendo pessoas de nós tão perto, 
Conhecimento se toma facilmente, 
Tanto no sábio, como falto de intelecto, 
Que o futuro obscuro e incerto, 
Os milhares chamam a cada instante. 

“Levante os olhos” como disse o Senhor, 
Em profusão ainda vemos quem nos rodeia, 
Pela fé vencemos água, mata e o perseguidor. 
Sofrendo intempéries, cansaço, medo e dor, 
Sem titubear, pois é Jesus quem nos norteia. 

Buscar e salvar o mundo perdido, 
Eis a razão da vinda do Filho de Deus; 
Demonstrando o amor grande e profundo. 
Pelo Pai foi desamparado neste mundo, 
Ao tomar a cruz, abandonado pelos seus. 
Ao aproximar-se o último momento,
 

Agonias na sua cruz de vergonha e dor, 
Entregando na mão do Pai seu espírito, 
A contemplá-lo, um mundo frustrado, 
Satisfez assim a justiça do Pai Criador. 

Sepultado em túmulo de misericórdia, 
Com duração de três dias somente. 
Deixando na tumba o lençol que o cobria, 
Encontrando a chorar sua seguidora Maria, 
Disse: “Não chore, estou com vocês novamente”. 

Ao mostrar-se vivo àqueles que o seguiam, 
Antes de se apresentar ao Pai celestial, 
Apareceu a muitos por quem Ele vivia, 
Disse: “Eis que convosco estou até aquele dia, 
Ide e fazei discípulos dos povos até o final”.
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Autor: Assis Militão da Silva

REFERÊNCIA:

REACHERS, Sammis. Antologia de Poesia Missionária – Volume 2. [s.n]. Versão gratuita em PDF, [2013].

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O CAMPO É O MUNDO

I
Há dezenove séculos passados,
a voz do Nazareno, cristalina
como um aviso prévio aos descuidados,
vibrava nos rincões da Palestina,
 

Desde Jerusalém à Galiléia,
das praias do Mar Grande até o deserto,
de Gate ou Corazim a Cesaréia,
por vilas e cidades, longe e perto.
 

Era o supremo arauto da verdade
a proclamar o reino do Messias,
coisas melhores para a humanidade
e, para os homens maus, melhores dias.
 

Era o divino e santo mensageiro,
que do evangelho as novas anunciava,
chamando para o bem o mundo inteiro,
cujo pecado horrendo profligava.
 

Era o celeste porta-voz do eterno,
com as boas-novas do perdão divino,
para livrar os homens do atro inferno
e lhes fazer melhor o seu destino.
 

Mas essa voz de entorno extraordinário
emudeceu um dia em plena lida,
quando, subindo ao monte do Calvário,
o Nazareno ofereceu a vida,
 

num derradeiro esforço, pela glória
de conquistar a salvação graciosa,
o mais belo capítulo da história
de sua vida humilde e poderosa.
 

II
O mundo jaz em trevas do pecado
e os homens no caminho da desdita,
rolando pelo pântano ensombrado
da morte atroz, horrífica, maldita!
 

Gemidos e soluços mal contidos
e entrecortadas lágrimas de tédio
são eclosões de espíritos feridos
e almas que choram sem nenhum remédio.
 

Nos grandes centros, fremem as orgias,
nas espeluncas, sórdidas risadas,
como se fossem loucas alegrias
que embriagassem as almas angustiadas.
 

E mais além, nos antros nauseabundos,
onde Satã firmou os seus esteios,
ébrios, corruptos, maus e vagabundos
vivem de estranho e vil falerno cheios!
 

O panorama é triste, na verdade,
porque o pecado as coisas desfigura
e, nessa dolorosa realidade,
transforma num leproso a sã criatura!
 

(Pois o homem é, desde o alto da cabeça,
uma terrível, fétida ferida,
uma só chaga purulenta e espessa
ainda nem ao menos espremida!)
 

Quem os socorrerá em tal estado?
E quem os livrará do inferno horrendo?
- O mundo jaz em trevas de pecado
e o futuro dos ímpios é tremendo!
 

III
“O Campo é o Mundo” – A Europa, a Ásia, as Américas,
o ártico solo, a Oceania cheia de ilhas...
Montes, cidades, plagas estratégicas,
arranha-céus... prodígios... maravilhas...
 

“O Campo é o Mundo” – Portugal, Espanha,
França, Inglaterra, Holanda, Itália e Grécia...
Rússia, Turquia, Bélgica, Alemanha,
Suíça, Iugoslávia, Dinamarca e Suécia...
 

“O Campo é o Mundo” – Arábia, Palestina,
Iêmen, Sibéria, Sião, Mesopotâmia,
Índia, Israel, Birmânia, Síria, China,
Japão, Nepal, Iraque, Transjordânia...
 

“O Campo é o Mundo” – México, Bolívia,
Haiti, Honduras, Chile e Paraguai...
Brasil, Antilhas, Canadá, Colômbia,
Cuba, Estados Unidos e Uruguai...
 

“O Campo é o Mundo” – Príncipe, Libéria,
Congo, Marrocos, Quênia, São Tomé...
Gâmbia, Somália, Uganda, União, Nigéria,
Niassa, Abissínia, Egito, Omã, Guiné...
 

“O Campo é o Mundo” – Austrália, ilhas e mares,
plagas longínquas, rios e desertos,
nações selvagens, povos seculares,
almas sem fé e corações incertos...
 

“O Campo é o Mundo”, sim, o mundo vário,
que jaz nas garras do feroz Mefisto...
Mas eis aqui um lema extraordinário:
- GANHAR O MUNDO INTEIRO PARA CRISTO!
 

N. do E.: Note que alguns dos países citados no texto já não existem, com p. ex. a Iugoslávia, enquanto outros mudaram de nome, como p. ex. Transjordânia (hoje correspondente praticamente à Jordânia)
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Autor: Jonathas Braga

REFERÊNCIA:

REACHERS, Sammis. Antologia de Poesia Missionária – Volume 2. [s.n]. Versão gratuita em PDF, [2013].

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MISSÃO COM ALEGRIA

1
Não quero fazer a Tua obra

como quem arrasta os pés
sob o peso de uma cruz.
Quero ser riso e carinho,
uma flor pelos caminhos,
nas noites quero ser luz.
2
Quero fazer Tua obra
como quem canta aleluias
ou melodias de amor;
como quem é muito amado
como um princípio de festa,
como o final de uma dor.
3
Não me deixes partir
se Tu não vais comigo;
não me deixes falar
se for palavra minha;
tolhe-me as mãos
se a obra não for Tua;
paralisa-me os pés
se eu quiser ir sozinho.
4
Se ameaçar-me o desânimo,
se a fraqueza assaltar-me,
que a Tua mão me socorra
para que volte a esperança,
o entusiasmo reviva
e a alegria não morra.
5
Quando falar em Teu nome,
(e que seja uma constante)
enche a minha alma de gozo:
os que ouvirem Teu recado,
não pensem num Deus marcado,
mas num Príncipe da Paz
e num Rei vitorioso!.

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Autora: MYRTES MATIAS

REFERÊNCIA:

REACHERS, Sammis. Antologia de Poesia Missionária – Volume 2. [s.n]. Versão gratuita em PDF, [2013].

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ENQUANTO O CORAL CANTAVA

Enquanto a música enchia o templo, 
eu vi o Rei. 
Vestido de majestade, coroado de honra, 
um cetro de poder e glória na mão. 
Ele voltava. 

Livre dos sapatos e dos preconceitos, 
da doença e da fadiga. 
Feliz, como uma criança que se atira 
na direção do Pai  – depois de uma ausência 
que só fez maior o amor e a necessidade 
de ver – eu corria no meio da multidão, 
que erguia palmas brancas 
em saudação Àquele que voltava. 
Lá estavam Livingstone, Carey, Bratcher, 
Corinto, Miranda Pinto... 
Lá estavam os vultos frágeis, 
Ana de Ava, Noemi Campelo, Caíta, 
Lotie Moon... 
Os missionários de todas as raças. 
Os grandes que se fizeram pequenos, 
os pequenos que a fé tornou gigantes: 
Bagby, Taylor, D. Chiquinha, 
que eu conheci 
quebrando coco babaçu, 
para sustento da obra 
que eles começaram. 
Lá estavam D. Maria e D. Carmen 
- um corpo perfeito no lugar daquele 
que a lepra deformara. 
Lá estavam Darito e os companheiros 
de enfermaria que ele levara a Cristo, 
livres do balão de oxigênio 
e do terrível clima de segregação. 
Lá estavam meus amigos cegos, 
com olhos enormes de luz 
e expectativa; 
Meus priminhos mudos, entoando, 
mais alto que todos, 
o canto de vitória e gratidão.
Livres de grades 

e de cadeiras de rodas, 
lá estavam muitos que eu conhecera 
prisioneiros da doença e do pecado. 
Lá estava meu irmão 
que Deus levou tão cedo. 
Lá estavam os mártires de todas as épocas, 
do tempo dos césares 
e das cortinas de ferro e de bambu. 
Lá estavam homens de pele escura 
e alma cor de neve; índios de brilhantes cabelos, 
crianças de todas as raças, 
cantando hosanas, como na entrada 
triunfal em Jerusalém. 
Lá estavam os meninos do Tocantins, 
os barqueiros do São Francisco, 
a gente do Araguaia, 
os colonos da Transamazônica, 
que se haviam tornado súditos 
do Caminho maior. 
Num milagre sem explicação, 
a multidão de mil cores, 
que entoava hinos em mil línguas 
e dialetos, 
era absolutamente igual, no sentimento 
que fazia de todos 
uma só corrente de alegria, 
formada por mil elos de amor. 

Eu disse que todos estavam lá? 
Não sei. Parece-me que havia lacunas 
na multidão e no coração do Rei. 
Muitos estavam ausentes, 
presos a cuidados terrenos, 
deixando a escola suprema 
para um amanhã inexistente, 
oferecendo a Momo um último holocausto, 
como se fosse possível 
servir a dois senhores, 
abraçar o mundo, sem desprezar o Rei.
E foi assim, enquanto o coral cantava, 

que pude sentir o quanto amava ao Rei, 
o quanto meu coração agradecia, 
por estar entre os salvos; 
por chamá-lo pelo nome que Madalena usou 
quando o reconheceu: 
- Voltaste, Raboni! Aleluia! 
Bem-vindo sejas, meu Senhor, meu Deus!
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Autora: MYRTES MATIAS

REFERÊNCIA:

REACHERS, Sammis. Antologia de Poesia Missionária – Volume 2. [s.n]. Versão gratuita em PDF, [2013].

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QUANTAS VEZES JÁ DISSESTE NÃO?

Não sei quantas vezes disseste não 
a uma ordem de Deus. 
Mas bom seria que pensasses um pouco 
antes de dizer – Não quero, ou – Não posso. 
Duas pequenas palavras que sobrecarregarão 
ombros talvez mais frágeis que os teus.
 

Não esperes que Deus te venha chamar 
três vezes pelo nome, no silêncio da noite, 
E nem te detenhas a esperar que um arcanjo 
desça do céu para murmurar a teus ouvidos 
que és um predestinado.

É preciso que O ouças naquela última frase 

sobre o monte chamado das Oliveiras: 
“Sereis minhas testemunhas...” 
Ele te fala através de todas as crianças 
que perderam os pais; 
de mil mulheres que vendem o corpo; 
de milhões de jovens que procuram 
uma razão de ser; 
de mais de dois terços dessa humanidade 
que caminha irremediavelmente para o abismo.
 

Ele apela ao teu coração através daqueles ombros 
sobrecarregados com a responsabilidade 
que não desejas aceitar. 
Daqueles corações que teimam em ser jovens 
aprisionados em corpos envelhecidos: 
enfermeiras que “não pegam mais menino”, 
professoras que não dão mais aula, 
pastores que não sobem os degraus do púlpito 
para entregar a mesma mensagem que um dia 
te salvou.
 

Não ouves Seu desafio naqueles túmulos brancos 
perdidos num cemitério do sertão 
ou de terras estrangeiras?
 

Eu O escuto chamar-Te na voz dos que pedem compreensão, 
dos que pedem repetir a História 
que pode salvar.
 

Não sei quantas vezes disseste não 
a estas mil vozes de Deus, 
ou se, para fugires à importunação, 
respondeste – Irei – para jamais 
te lembrares do compromisso.
 

Não é justo que sobrecarregues com tua omissão 
aqueles que aceitam o Reino de Deus 
como uma obra de vida ou morte.
 

Receio que venhas a sentir remorso 
quando os vires tombar prematuramente 
sob uma carga que bem poderias 
ter ajudado a levar.

Não te julgues bom demais para uma tarefa 

pela qual o teu jovem Salvador deixou o céu; 
nem tão pequeno que nada possas fazer. 
Numa colheita prestes a perder-se 
há lugar para todos.
 

Com tuas palavras, teus atos, tua vida 
e teus bens, tu podes ser aquele que ajuda, 
                                      aquele que substitui, 
que caminha atrás dos segadores 
com uma pequena cesta, a recolher as espigas, 
para evitar que os benditos frutos 
venham a se perder.
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Autora: MYRTES MATIAS

REFERÊNCIA:

REACHERS, Sammis. Antologia de Poesia Missionária – Volume 2. [s.n]. Versão gratuita em PDF, [2013].

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quinta-feira, 28 de abril de 2016

ENQUANTO É DIA

Tremo ao contemplar milhares, 
Milhões caminhando para o abismo, 
Enquanto o povo que se chama pelo Teu nome 
se assenta a tecer grinaldas de flores, 
preocupado em acompanhar os padrões 
do presente século. 
Que fizemos do teu senso de urgência: 
"Trabalhai enquanto é dia"? 
Do Teu santo objetivo: 
"É necessário que eu anuncie o evangelho... 
porque para isso fui enviado"?

Tu não Te importaste de ser diferente 

dos grandes do teu tempo. 
Bastava-Te o ideal, 
a angustiante certeza de que era breve 
Teu tempo aqui.
 

Sobretudo, havia o amor. 
Por ele Te fizeste maldição, 
objeto de escárnio e zombaria, 
Quando permitiste que Te erguessem, 
entre o céu e a terra, nos braços de uma cruz.
 

Abre-nos os olhos, Senhor, para a profundidade 
da missão que nos deste, 
Dá-nos consciência do preço que Te custou 
a autoridade para ordenar: 
- "Ide e pregai o evangelho..." 
Enquanto é dia, enche-nos do Teu senso de urgência. 
Sobretudo, Senhor, que nos possua 
aquele amor que Te fez aceitar o ridículo da cruz: 
Ele nos fará desprezar os valores do mundo, 
ele nos levará a sair pelos becos e valados, 
em busca dos famintos, 
para que tua casa se encha, 
para que aleluias e hosanas 
se ergam ao santo nome Teu.
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Autor: MYRTES MATIAS

REFERÊNCIA:

REACHERS, Sammis. Antologia de Poesia Missionária – Volume 2. [s.n]. Versão gratuita em PDF, [2013].

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SÊ TU A BOA TERRA

Se, no canteiro de tua alma,
alguém já lançou a semente bendita
que produz frutos para a eternidade,
sê tua a boa terra do cento por um,
como na história que Jesus contou.
Que outros sejam a beira do caminho,
onde as sementes são pisadas pelos homens
ou comidas pelas aves do céu.
Que sejam outros a terra pedregosa
ou cheia de espinhos, onde a semente
sucumbe por falta de umidade
ou onde a planta frágil fenece sem nada produzir.
Para que a vinha do Senhor atinja os confins da terra,
na bendita multiplicação
capaz de saciar os famintos, vestir os nus,
curar os enfermos e ressuscitar os mortos,
é preciso que sejas a fecunda e agradecida terra
que produz cento por um.
Deixa que o semeador siga adiante,
transforma-te a ti mesmo naquele que firma as estacas,
que ajuda, consolida, passa a outros o bem que recebeu.
Que te baste a alegria do dever cumprido,
a certeza de estar entre aqueles
que entregam coração, bens e vida no ideal
de transformar a terra triste e atormentada
na exuberante vinha do Senhor.
 

Pode ser que ninguém proclame os teus feitos
e que os jornais não publiquem tua atuação:
lá no alto, onde tudo se aclara,
o Senhor que te deu lugar na seara
traz o teu nome na bendita Mão.
 

Mas que importa a opinião do mundo
sobre o anonimato do trabalho teu?
Um dia, a tarefa finda,
estarás entre os que ouvem a saudação mais linda:
- Vem descansar, servo fiel e humilde,
estendeste minha vinha aos confins do mundo,
consolidando na terra o meu reino, que é o do céu.

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Autor: MYRTES MATIAS

REFERÊNCIA:

REACHERS, Sammis. Antologia de Poesia Missionária – Volume 2. [s.n]. Versão gratuita em PDF, [2013].

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O ACHADO PRECIOSO

Na velha Índia dos sonhos do passado,
De mistério e crendice,
Um peregrino, triste e desolado,
Vinha de longe como quem sentisse
O horror do seu pecado,
Perseguindo-o com o fogo dos remorsos...
 

Vinha de muito longe, e árduas distâncias
Percorrera, de joelhos,
Para banhar-se nas ‘divinas’ águas
Do Ganges – o ideal rio sagrado –
Mas, com a carne em chaga e olhos vermelhos,
- Resultado de mil e um esforços
Para encontrar a paz do coração –
Ele notou que fora tudo em vão;
Pois a angústia das ânsias
E o delírio das mágoas,
Na sua vida de desesperado,
Nada, nada mudara,
Porque, quando no Ganges mergulhou,
A tradição falhara:
E mais triste, e mais velho, e mais cansado,
Ao seu destino incerto regressou...
 

Mas, ao chegar ao vilarejo e a casa
Em que vivia, pobre e solitário,
Com o pensamento em brasa,
Deparou-se com o velho missionário
Que, com simplicidade e inspiração,
Lhe falou do Calvário,
Da mensagem evangélica da cruz,
Da fé que transfigura o coração,
Da água viva da fonte da verdade,
Da ternura, do bem, da caridade;
Falou-lhe de Jesus.
 

E o pobre, até então insatisfeito,
Sentindo a luz da fé raiar-lhe n’alma
E a ventura da paz cantar no peito,
Descobriu, afinal,
Que a glória e o amor de Deus estão tão perto
De cada coração de moço ou monge,
Que os vive loucamente a procurar
Por ínvios mares, por caminho incerto,
No formalismo da religião,
Ou nos sistemas de filosofias,
Por julgá-los, talvez, tão alto e longe,
Que nem pensa em si mesmo os encontrar,
Pulsando nas tristezas e alegrias
Ou nas ânsias do próprio coração...
Por isso, abrindo os lábios num sorriso,
Confessa o peregrino:
- “É isso que eu buscava, sem saber,
Na crendice da humana tradição;
Cristo é nosso destino,
É nossa luz, é nosso paraíso,
Pois quando o coração
Pode sentir e ver
A glória excelsa do supremo Ser,
Na vida nova e mística do crente,
Deus se revela, clara e santamente,
No milagre da sua redenção.”
 

Tu, que buscas em dogmas e ritos
E, tão longe de ti, o dom supremo
Que garante a ventura e a perfeição,
Aprende esta lição,
Tão cheia de preceitos infinitos:
Deus está em ti mesmo, em ti existe
A celeste virtude
Que te oferta a alegria na hora triste;
Nos momentos de dores, a saúde;
E, em tudo o mais, na transfiguração
Da velhice que cansa,
A juventude eterna da esperança
E o sempre novo bem da salvação!

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Autor: MÁRIO BARRETO FRANÇA

REFERÊNCIA:

REACHERS, Sammis. Antologia de Poesia Missionária – Volume 2. [s.n]. Versão gratuita em PDF, [2013].

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SUPREMA DECISÃO

Ó tu que a todo tempo e em todos os lugares, 
Velada ou claramente, anuncias a paz 
E esforças-te em firmar nos povos e nos lares, 
Pelos elos do amor, as bases fraternais;
 

Tu que manejas firme as penas e os teares 
Na ânsia de a todos dar recompensas iguais, 
E tentas resolver problemas seculares 
Por códigos cristãos e humanos tribunais;
 

Ó tu que forjas na alma o aço da resistência 
E sacrificas tudo em nome da ciência, 
Do direito, da fé, da justiça e do amor;

Não recues jamais; morre, se for preciso, 

Como Cristo morreu legando um paraíso, 
Como Estevão morreu perdoando o agressor!
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Autor: MÁRIO BARRETO FRANÇA

REFERÊNCIA:


REACHERS, Sammis. Antologia de Poesia Missionária – Volume 2. [s.n]. Versão gratuita em PDF, [2013].
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BRASIL SONHADO

Brasil do meu amor!
Brasil sentimental de minha inspiração,
Eu te quisera ver sob a mesma bandeira
Que Cristo desfraldou por nossa salvação!

Mas, entre tanta glória que te exalta,
Entre tantas riquezas e esplendor,
Infelizmente, meu Brasil, te falta
Melhor conhecimento do Senhor.

Repara o interior das tuas matas!
Teus sertões!... Tuas vilas afastadas!...
Ali onde tu és ingênuo e lindo,
Onde cantas nas vozes das cascatas,

Onde gemes nas cordas dedilhadas
E onde vives – tão nosso – sempre rindo,
É justamente ali, Brasil querido,
Que tu não tens o Livro que te ilustre
Nem meios que te façam conhecido!

E eu te quisera ver na vanguarda do mundo,
Ovante, desfraldando o rubro pavilhão
Que Cristo desfraldou, por seu amor profundo,
No Calvário imortal do seu grande perdão!
Assim eu te quisera e assim é que te sonho,
Contemplando o teu mar e este teu céu azul,
Em que vives suspenso, em que vives risonho,
No símbolo de fé do Cruzeiro do Sul.

Mas eu creio, Brasil, no milagre eloquente
Do eterno sacrifício do Senhor,
Para seres no mundo, brevemente,
Uma luz, uma bênção refulgente,
Brasil do meu amor!...
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Autor: MÁRIO BARRETO FRANÇA

REFERÊNCIA:


REACHERS, Sammis. Antologia de Poesia Missionária – Volume 2. [s.n]. Versão gratuita em PDF, [2013].
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